Kerygma

Um apóstolo exercia uma função especial na igreja do Novo Testamento. O termo “apóstolo”, era mais que um mensageiro. Ele era comissionado com a autoridade para falar e para representar aquele que o havia enviado.
O principal apóstolo no N.T. é o próprio Jesus. Foi enviado pelo Pai e falou com a autoridade investida nele pelo Pai. Semelhantemente, os apóstolos foram chamados e comissionados diretamente por Cristo e falavam com sua autoridade.
No N.T., doze discípulos foram comissionados como apóstolos. Depois da morte de Judas, a Igreja preencheu a vaga escolhendo Matias (At 1.21-26). A este número Jesus adicionou o apóstolo Paulo, como o apóstolo especial aos gentios. O apóstolo Paulo foi assunto de muito debate, porque ele não preenchia todos os requisitos apostólicos determinados no livro de Atos.

Os critérios para o apostolado incluíam:

Ter sido testemunha ocular das obras, da vida, da morte e da ressurreição do Senhor Jesus (At 1.16-26; Jo 15.27);

Ser chamado e comissionado diretamente por Cristo (Mt 10.1-4; Mc 3.13-19; Lc 6.12-16). Paulo não fora discípulo antes; não fora testemunha ocular da sua Ressurreição, mas apesar de tudo isso, foi chamado para a função pelo próprio Cristo (At 26.12-18; I Co 9.1; Gl 1.1). Seu chamado foi confirmado pelos outros apóstolos (At 15.22-26; Gl 2.7-9), cujo apostolado não foi questionado e foi autenticado pelos milagres que Deus operou por meio dele;

Obras miraculosas e um ministério especial autenticavam a validade do oficio apostólico (Mt 10.1; At 5.15-16; At 14.8-10; At 16.18; At 19.11-12;At 20.9-10);

Portanto, devido à sua natureza e caráter, esse “ofício apostólico” não pode ser transferido. A noção de “sucessão apostólica” é um dogma humano, e não uma doutrina do N.T. Entretanto, em sentido secundário, outros têm sido e podem ser chamados de “apóstolos”. Que Paulo considerou Tiago (não o filho de Zebedeu), o irmão de Jesus um apóstolo, fica explícito por sua afirmação “Não vi nenhum outro apóstolo, mas somente Tiago, o irmão do Senhor” (Gl 1.19). Lucas defende a apostolicidade de Paulo e Barnabé (At 14.4,14). É importante enfatizarmos – não temos mais apóstolos no mundo; eles cessaram. Não existe mais gente que senta no lugar de Cristo e fala com sua autoridade, autoridade essa que Jesus legou aos 12, e depois a Paulo. Na perspectiva de falar em nome de Cristo como se fosse o próprio Cristo, com sua autoridade total, então não há mais apóstolos. No entanto, o dom de apóstolo extrapola essa perspectiva e penetra outras dimensões da vida. São essas outras perspectivas que ainda hoje podem ser encontradas na vida das pessoas. Vale atentar á extensão do dom apostólico no N.T., para lá da comunidade dos 12 apóstolos, ou de Paulo. Podemos constatar isso quando Barnabé é chamado de apóstolo junto com Paulo (At 14.1,4,14), conforme já dissemos; também havia alguns com título apostólico e que não dignificavam tal honra (2 Co 11.5,13). O fato é que, na mente da Igreja Primitiva, conseguia-se perfeitamente fazer divisão entre os doze – os que falavam com a autoridade decisória do Senhor Jesus e outros que tinham ministérios apostólicos, como parece ser também o caso de Andrônico e Júnias[1] (Rm.16.7).

Podemos concluir asseverando o seguinte:

O ofício apostólico não pode ser transferido. Não existe sucessão apostólica, isso simplesmente é invenção humana;
Não há base Bíblia para alguém transferir para si a autoridade apostólica na perspectiva como se fosse o próprio Cristo, com sua autoridade total. Os apóstolos sim possuíam essa autoridade;
Que o ministério apostólico era reconhecido pela igreja do Novo Testamento é verdadeiro, isso não podemos negar, pois outros receberam essa designação.
Pode alguém reivindicar o título de apóstolo nos dias atuais? de forma nenhuma! O oficio deixou de existir. O dom pode sim manifestar-se, mas isso não nos dá o direito de sair por ai intitulando-se “apóstolos de Cristo”.

NOTAS:

  • [1] O versículo é bastante discutido entre os comentaristas:
    Não é possível determinar através do original se o segundo nome é feminino ou masculino. Eram judeus e companheiros de Paulo na prisão. Crentes antes de Paulo eram contados entre os apóstolos (Bíblia Shedd, p.1604).
  • Sproul diz que os primeiros comentadores compreendiam que esses dois eram marido e mulher. Eram judeus como Paulo e se tinham convertido a Cristo antes do próprio Paulo. Tudo indica, que tinham estado na prisão por algum tempo com Paulo e tinham servido com distinção com enviados especiais (“apóstolos”) das igrejas (Bíblia de Genebra p.1343).
  • Alguns mencionam que há possibilidade de Júnia ser Júnias, ou seja, um homem. O fato de que a Bíblia de Jerusalém traz o texto como citado acima (Júnia) é bem significativo, uma vez que a Igreja Católica Romana esteja tão hesitante em reconhecer a ordenação feminina (Bíblia de Jerusalém p.2144).
  • Ainda que Paulo não tivesse por costume dar demasiada importância a consangüinidade, ou a outros privilégios físicos, não obstante, em razão de sua relação com Júnias e Andrônico poder contribuir de alguma forma para que se tornassem melhor conhecidos dos romanos, ele não omite fazer esta recomendação (Calvino, Com. de Romanos p.514).
  • Entre os comentários mais antigos que afirmam que se trata mesmo de uma mulher está o de Crisóstomo que, na sua Homilia nº XXXI, fala com entusiasmo de Júnia e Andrônico. “(….) são notáveis entre os Apóstolos” na verdade, só o fato de serem apóstolos é uma grande coisa. Mas, estar entre aqueles que são notáveis por causa das suas obras, das suas realizações. Oh! Que grande devoção desta mulher, que é tida como digna do nome de apóstola (….)” (Reilly, 1997, p.43).
  • John Stott diz o seguinte: “(…) O lugar proeminente ocupado pelas mulheres no círculo de amigos de Paulo demonstra que ele definitivamente não era o machista calvinista que geralmente se imagina. E quem sabe isso até esclareça um pouco mais a incômoda questão do ministério das mulheres? Como nós já vimos, dentre as mulheres que Paulo saúda quatro “trabalharam arduamente” no serviço do Senhor. Priscila foi uma das “colaboradoras” de Paulo, Júnia era uma missionária bem conhecida, e Febe deve ter sido uma diaconisa (…)” (Com. de Romanos p.477).

Mensagem publicada por: Pr. Alexandre Rodrigues de Souza contato: alexandrersouza@yahoo.com.br

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